Habilidades motoras e funções executivas
Hoje estou duplamente feliz! Pelo Brasil ter passado para a próxima fase da Copa do Mundo e por ter recebido um texto incrível da fonoaudióloga Lívia Rodrigues Santos sobre “Habilidades motoras e funções executivas”! O texto que ela escreveu é tão significativo que merece ser replicado no blog!
Contando um pouquinho sobre a Lívia, ela graduou-se na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é mestre em Ciências Fonoaudiológicas pela UFMG, escreveu sua dissertação sobre a “Influência da utilização de mídias interativas (tablet e smartphone) no desenvolvimento e de linguagem em crianças. Tema super atual, não é mesmo? Além disso, atualmente a Lívia faz pós graduação em neuropsicologia, e está em um se envolvendo mais em reabilitação neuropsicológica e funções cognitivas.
Segue abaixo então o texto escrito pela fonoaudióloga Lívia! Lívia muito obrigada pela sua contribuição!
Habilidades motoras e funções executivas
(por Lívia Rodrigues Santos)
Uma das coisas mais interessantes na infância é observar o desenvolvimento da criança por meio de brincadeiras. Algumas pessoas podem ser bem competitivas ao interagir com os pequenos. Por acaso, você já viu pais “disputando” entre si a direção em que o bebê deve engatinhar ou andar?
Nessas situações é bem comum que a criança desaponte a ambos e não vá lugar algum.
Para entender o motivo, é necessário compreender o desenvolvimento infantil e a maturação do cérebro.
Ao nascer, o bebê reage ao meio de forma reflexa, ou seja, não intencional. Com o amadurecimento do Sistema Nervoso Central, os reflexos vão sendo substituídos por movimentos voluntários cada vez mais refinados. Acontece que a maturação cerebral ocorre lenta e progressivamente.
Cada região do cérebro tem uma função específica. O lobo frontal, por exemplo, é responsável por inúmeras funções, dentre elas: planejamento, organização e execução de movimentos, motivação, comportamento social, vontades e atenção, dentre outros. Essa região cerebral pode ser dividida em córtex motor, encarregado da realização de movimentos, e córtex pré-frontal, responsável por atividades mais complexas como a atenção.
Calma que já estamos chegando à nossa resposta. Pensando na maturação neurológica adivinha quem amadurece primeiro: o córtex motor ou o córtex pré-frontal? Se você respondeu córtex motor, acertou. A primeira área a amadurecer no lobo frontal é a área motora primária, que torna possível a execução de movimentos voluntários, porém não muito elaborados. Em seguida, ocorre a maturação da área pré-motora que permite que os movimentos sejam mais organizados e refinados.
O amadurecimento gradativo e ordenado dessas regiões explica o refinamento motor de bebês ao longo do tempo. Acontece que a região pré-frontal, responsável pelas funções executivas (memória, atenção, flexibilidade cognitiva, etc.) tem sua maturação mais lenta. Na realidade, o amadurecimento completo dessa região ocorre por volta da segunda década de vida. Não, você não leu errado. Alguns estudos indicam que essa região atinja sua maturação completa ao redor de 18 anos de idade.
Agora já sabemos o motivo pelo qual os bebês ou crianças pequenas não conseguem concluir algumas atividades embora tenham condições motoras para tal. A área pré-frontal imatura dificulta manter a atenção, falhando no processo de inibição de estímulos irrelevantes. Quando isso acontece, a criança acaba se distraindo facilmente.
Conforme mencionado, as funções executivas e o desenvolvimento motor se relacionam e se influenciam mutuamente. Hoje em dia já se sabe que pessoas com déficit de atenção e/ ou hiperatividade apresentam alteração no desempenho motor fino e global. Esse fato reforça não apenas a relação entre os processos atencionais e as habilidades motoras, mas também demonstra a importância de se conhecer desenvolvimento motor típico.
Se quiser saber mais sobre os principais marcos do desenvolvimento motor, dê uma olhada no post anterior.