“Qual a fruta que dá na árvore chamada mangueira? Água!” Conheça a história de uma criança com o transtorno do processamento auditivo!
Atendo semanalmente uma criança de 9 anos muito especial que tem o transtorno do processamento auditivo associado a alterações de aprendizagem. É uma criança muito alegre e nas últimas semanas (quero dizer, nos últimos meses) vinha muito feliz para as sessões e sempre comentava como iria ser seu aniversário. Vai ter isso, vai ter aquilo, vai ter brincadeira, docinho, bolo, decoração tal e tal, sempre dizia ele. Até que chegou o grande dia, o dia do aniversário! Na sessão posterior ao aniversário imaginei eu que ele chegaria radiante, como era de se esperar, mas ele voltou triste e nem queria falar sobre o aniversário! Achei muito estranho e questionei a mãe que logo veio me contar a trágica história do aniversário. Na festa tinha os animadores e uma das brincadeiras que propuseram a fazer foi uma bastante conhecida: “torta na cara”. Meu paciente se animou todo e logo se propôs a brincar. O ambiente com muitas pessoas era muito ruidoso, e meu paciente ficou com muita dificuldade de compreender as perguntas, e claro, levou muitas tortadas! As perguntas que conseguia compreender acabava respondendo ao pé da letra. Acabou sendo alvo de piadas principalmente quando respondeu a pergunta: “Qual é a fruta que dá na árvore chamada mangueira? E ele respondeu: Água!”. O aniversário que era para ser só alegria acabou com choro…
Eu aprendi muito atuando com pacientes com o transtorno do processamento aditivo (TPA), então acho que sou uma boa pessoa para passar algumas informações! Abaixo estão alguns pontos que eu gostaria que as pessoas entendessem sobre o TPA:
- Ele não é desafiador
Com o TPA, o cérebro nem sempre processa as palavras faladas suavemente. Então, quando uma criança com TPA não responde imediatamente ou não entende o que você diz, ela não faz isso para ser rude ou desafiadora. Ela simplesmente não compreendeu o que você disse.
Esta criança quer te entender – mais que tudo. Crianças com TPA às vezes desistem de conversar, porque tem medo de parecer rudes. Infelizmente, isso faz parte da vida de quem tem TPA.
- A ligação entre o TPA e a audição pode ser confuso
Ter TPA não é o mesmo que ter dificuldade de ouvir. A audição de uma criança com TPA é realmente muito boa. De fato, isso pode ser parte do problema. Por exemplo, a máquina de barbear pode produzir um som irritante e agudo quando está carregando e pode incomodar realmente uma criança com TPA. Pode parecer “estranho”, ela percebe sons que ninguém mais percebe, mas ainda não consegue “ouvir” o que outra pessoa está dizendo. Isso porque o TPA é um problema de processamento de informações, não um problema de audição.
- Sons e ruídos competitivos tornam a compreensão mais difícil
Quando eu falo com qualquer pessoa, minha voz está competindo com milhares de outros ruídos. Pode ser a rajada de ar saindo do ar-condicionado, ou os passos vindos do corredor, ou o zumbido de uma luz fluorescente no teto da casa. É por isso que iniciar uma conversa complexa com uma criança com TPA em um ambiente barulhento ou caótico, pode ser literalmente uma catástrofe!
Se você tem algo importante para compartilhar e é barulhento, envie um texto ou anote a mensagem. Melhor ainda, quando você precisa ter uma conversa importante, fale com ela em um lugar calmo. Falar diretamente com ela e fazer contato visual também ajuda.
- Dizer para “prestar mais atenção” não ajuda
Algumas pessoas confundem TPA com TDAH, mas elas não são as mesmas.
Sim, o TPA pode incluir problemas com atenção. Afinal, é difícil se concentrar se você não consegue entender o que está sendo dito ao seu redor.
Mas dizer a criança para “prestar mais atenção” não ajuda quando o cérebro dela está embaralhando os sons que entram. Seria como se alguém lhe dissesse para “prestar mais atenção” em uma língua estrangeira que você mal fala.
- Reformular é mais útil do que repetir
Quando a criança responde com “O quê?” A algo que você disse, é tentador repetir exatamente o que acabou de dizer e em voz mais “alta”.
Mas o que ele realmente precisa é que você diga de uma maneira diferente. Isso porque certas frases podem ser mais difíceis de processar. Os sons podem ser muito parecidos. As combinações de palavras podem ser muito complexas.
Reformular – não repetindo as mesmas palavras mais “alto” – pode realmente ajudar!
- A criança com TPA quer se sentir segura para pedir que você diga algo quantas vezes ela precisar
A maioria das pessoas não gosta de dizer a mesma coisa repetidamente. Mas se a criança percebe que você pode repetir e reformular uma frase se preciso, ela se sentirá mais à vontade. É maravilhoso quando as pessoas estão dispostas a fazer isso por estas crianças! Elas precisam mais do que você pode imaginar!
Que texto maravilhoso!
:)
Então eu quase chorei, pq passei por essa mesma situação, no aniversário tão sonhado, contratei uma princesa, a princesa perguntava e minha filha não respondia ,nada com nada, e eu voltei e chorei a noite toda , expôs o lado mais fragilizado dela e meu, e ainda expôs, muito constrangedor.Hoje eu defino o que vai dar certo e se tem possibilidade de eu orientar, na época nós não tínhamos o diagnóstico.Foi um dos piores dias da minha vida.
Olá Fernanda! Obrigada por compartilhar a sua história comigo!