Congresso Fono 2020 (Parte 3) – O que fazer quando os pais chegam no consultório com a metodologia ou a técnica definida para a intervenção do transtorno do processamento auditivo?

Congresso Fono 2020 (Parte 3) – O que fazer quando os pais chegam no consultório com a metodologia ou a técnica definida para a intervenção do transtorno do processamento auditivo?

Algo que venho observado há alguns anos e que foi discutido amplamente durante o congresso Fono 2020 é o crescente número de pais que chegam aos consultórios de fonoaudiologia com a metodologia ou técnica definida para a intervenção do transtorno do processamento auditivo.

Constantemente recebo mensagens, ligações e indagações no consultório: “Pollyanna, você faz o método Sena?”, “Pollyanna você faz o treinamento em cabine?”, “Pollyanna você usa o afinando o cérebro?”, “Há… Pollyanna, se você não faz o método tal eu não vou fazer a intervenção com você!”.

Graças as pesquisas (e algumas em andamento) hoje temos grandes possibilidades de atuação em pacientes com o transtorno de processamento auditivo: Treinamento acusticamente controlado, Treinamento Auditivo-Cognitivo, Treinamento Informal (englobando tarefas de estimulação de linguagem), Método Sena (pesquisas em andamento), Softwares, Plataformas de Jogos (exemplo: Afinando o Cérebro), etc.

Como discutido no “Talk Show”, sala 1 da CFFa, pelas fonoaudiólogas Maria Inés Dornelles Costa Ferreira, Mariana Cardoso Guedes e Sheila Andreoli Balen, a indicação da intervenção e qual metodologia utilizar é de responsabilidade do fonoaudiólogo que SOLICITA o exame do processamento auditivo, e não do fonoaudiólogo que FAZ o exame ou os pais.

Por que isso? O fonoaudiólogo que solicita o exame realiza a anamnese/entrevista, faz a avaliação de linguagem, faz a avaliação das habilidades cognitivas e observa a criança durante o convívio. A indicação de uma metodologia ou técnica de intervenção não pode ser dada somente com a análise isolada dos dados da avaliação do processamento auditivo ao qual o fonoaudiólogo que FAZ o exame tem. O planejamento terapêutico se dá por uma análise de vários fatores e é muito difícil ter um Transtorno do Processamento Auditivo primário (isolado). E é comum o TPAC vir em comorbidade a outros transtornos.

O guia de orientação: “Avaliação e intervenção no processamento auditivo”, lançado no congresso, não recomenda que o fonoaudiólogo que está realizando o relatório da avaliação do processamento auditivo determine o método ou técnica da terapia fonoaudiológica a ser realizada. Vale a pena ler o guia que pode ser acessado neste link: https://www.fonoaudiologia.org.br/publicao/guia-de-orientacao-avaliacao-e-intervencao-no-processamento-auditivo-central/

E o que fazer quando os pais chegam no consultório com a metodologia ou a técnica definida para a intervenção do transtorno do processamento auditivo?

Eu tento explicar que para se definir qual técnica ou metodologia a se utilizar vários fatores são necessários a se observar (história clínica, resultados da avaliação do PAC, avaliações fonoaudiológica extras, exames de imagens, relatórios de outros profissionais, etc).

Alguns pais são resistentes, preferem continuar na busca do profissional que faz determinada técnica, e muitas vezes não encontram, e a criança fica sem intervenção. Outros pais são abertos ao diálogo.

Portanto, para que cada vez menos o fonoaudiólogo receba pais no consultório com a metodologia definida, é preciso que não sejam prescritas no relatório de avaliação do processamento auditivo a metodologia/técnica a ser seguida! Esse é o caminho!

3 comentários em “Congresso Fono 2020 (Parte 3) – O que fazer quando os pais chegam no consultório com a metodologia ou a técnica definida para a intervenção do transtorno do processamento auditivo?”

  1. Daniele Cristina Brey Gil

    Ótima ressalva , seria o mesmo quando um médico já prescreve qual terapia devemos realizar ou o número de sessões de fono que a criança terá que fazer , até mesmo a professora ou escola fala que não precisa mais da fono…que a criança já está “boa” e os pais dão alta por conta própria, sem ao menos nos procurar antes para saber mais sobre o tratamento ( começo , meio e fim).
    Abraços.

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