O papel do CEREBELO nas funções cognitivas
Cerebelo? Funções cognitivas? Será que você leu certo?
Isso mesmo! Você leu certo! Classicamente considerado responsável pela coordenação motora, o cerebelo tem sido ultimamente implicado também em funções cognitivas.
A caracterização dos mecanismos que regem as funções mentais superiores (linguagem, memória, cálculo, orientação visuoespacial, funções executivas) permanece como um dos maiores desafios da neuropsicologia.
O aprofundamento da investigação nesta área tem se expandido muito. Embora classicamente o controle das funções cognitivas seja atribuído exclusivamente a determinadas áreas do córtex cerebral (áreas de associação), trabalhos têm atribuído papel a circuitos envolvendo também estruturas subcorticais.
O conceito de rede neuronal propõe que áreas distantes do cérebro possam participar de forma diversa, através de vias e circuitos próprios, no controle das mesmas funções cognitivas, contribuindo com elementos específicos para um resultado comportamental que é feito da combinação de várias operações.
As ligações do cerebelo com diversas regiões do sistema nervoso central são conhecidas há muito tempo e explicam a participação deste órgão em múltiplas funções cerebrais. Sabe-se, desde há várias décadas, que o cerebelo tem um papel essencial na coordenação motora, na articulação verbal e no controle dos movimentos oculares, participando ainda no controle do equilíbrio e das funções autonômicas.
As alterações relacionadas com as lesões do cerebelo são constituídas essencialmente por sintomas e sinais motores: desequilíbrio na marcha, descoordenação no movimento dos membros, alteração dos movimentos oculares, disartria. Recentemente, o cerebelo tem sido implicado também no controle de diferentes funções cognitivas. Pesquisas conduzidas em indivíduos saudáveis e em doentes com patologia do cerebelo, lançou as bases anatomofisiológicas e clínicas para o conhecimento das funções cognitivas do cerebelo.
Dentre estas funções podem ser destacadas as questões executivas (planejamento da ação, inibição, flexibilidade, monitorização, raciocínio), memória (semântica, visuoespacial e de trabalho), atenção (dividida e sustentada) e de linguagem (fluência).
A demonstração das alterações cognitivas e comportamentais em doenças do neurodesenvolvimento em que o cerebelo está afetado, nas doenças degenerativas e nas lesões focais do cerebelo, apoia estas funções desempenhadas pelo cerebelo. O estudo de acidentes vasculares isolados do cerebelo em doentes jovens reúne vantagens importantes, por permitir isolar no tempo e no espaço as consequências cognitivas das lesões, constituindo um modelo clínico interessante para um melhor conhecimento das funções mentais superiores do cerebelo.
Fonte:
Bugalho P., Correa B., Viana-Baptista M. Papel do cerebelo nas funções cognitivas e comportamentais. Acta Med Port (2006).